A COR NA MODA - Parte III - O Branco

Olá pessoal, como vocês estão?

No episódio de hoje, falaremos sobre o branco.




A palavra branco vem do germânico blank, que significa brilhante. Simboliza a luz e por isso não deve ser considerado cor, pois de fato não é. O branco é uma combinação de todos os comprimento de onda do espectro, mas como cor, na realidade , não existe.

Se para os ocidentais simboliza a vida e o bem, para os orientais é a morte, o fim, o nada. Representa também, para nós, ou para alguns de nós que segue a cultura ocidental, o vestíbulo do fim, isto é, o medo, além de representar o espaço.

Quando pensamos em branco, pensamos em pureza, inocência e feminilidade. O branco tem um apelo virginal no sentido de que é o símbolo da entrega. Branco é a cor do leite que a mulher produz, e também a cor do sêmem. O branco é livre de engano ou treva, é imaculado, limpo.

  

No período clássico, muito antes da raça "branca" ter sido inventada, o branco era a cor das nuvens em tempo bom  e das montanhas nevadas só no cume , onde os deuses habitavam. Era sagrado para Zeus: cavalos brancos conduziam sua biga, e animais brancos lhe eram oferecidos em sacrifício por sacerdotes vestidos de branco. Na religião cristã, está associada a pureza celestial, a páscoa e à ressurreição.

  • Associação material: batismo, casamento, neve, nuvens em tempo claro, cisne.
  • Associação afetiva: ordem, simplicidade, limpeza, reflexão, otimismo, paz, pureza, juventude, dignidade, divindade, harmonia.

O branco também é considerado a cor do status. Uma mulher em seu tailleur branco puro transmite a mensagem de que não precisa se preocupar em estragar a roupa branca limpa com trabalho duro. Em outras palavras, só aquelas pessoas que tem o lazer como estilo de vida podem se dar ao luxo de usar branco diariamente, até o advento das maquinas de lavar. 

Antes do século XX, a limpeza e a santidade não eram necessariamente associadas à saúde, e os médicos, com a intenção de parecerem sérios e competentes, usavam roupas escuras e sóbrias. A descoberta dos germes e da higiene, e a transformação da medicina de uma arte incerta para uma ciência incerta, mudou tudo. O médico deixou de ser uma espécie de artesão habilidoso que podia aliviar as nossas dores, mas nunca deveria ser convidado para jantar nas melhores casas; passou a ser uma figura de autoridade divina, um árbitro da vida e da morte. Esse ser endeusado adotou gradativamente uma indumentária branca imaculada, que hoje é o padrão dos membros dessa profissão. 


Sobre o uso do branco no vestido de noiva e sua origem pouco se sabe, mas alguns registros indicam que a rainha Mary Stuart, da Escócia, foi primeira que aderiu ao branco no século XVI. Uma das explicações para a escolha foi que Mary Stuart fez uma homenagem à família Guise, de sua mãe, que tinha a cor branca em seu brasão.






Já outro relato é sobre o casamento da rainha Maria de Médici, da França, no século XVII. Natural da Itália, Maria usou uma vestimenta branca, com detalhes dourados e com decote quadrado, causando rebuliço em toda corte francesa. Diz-se que, apesar de ser de ser uma tradição católica, ela se rebelou contra a estética religiosa que indicava o uso de cores escuras, geralmente preto, e vestidos fechados até o pescoço. Michelangelo atribuiu o branco do vestido de Maria de Médici à pureza da moça, que tinha na época apenas 14 anos.

Mas o amor romântico faz com que muitos atribuam a origem do vestido de noiva branco à rainha Vitória, da Inglaterra, no século XIX. Isso porque ela foi uma das primeiras da realeza a se casar por amor e em um esplendoroso traje, com vestido e véu brancos e sem coroa, o que também foi inédito. Por ser uma rainha, foi ela quem pediu o marido, o príncipe Albert, em casamento. 




Outro uso da cor branca que adotamos é no ano novo, e isso vem da África, quando as tribos utilizavam essa cor para representar a purificação espiritual e para homenagear Iemanjá na virada do ano. No Brasil, essa tradição teve início no local onde se comemora o réveillon mais famoso do mundo: Copacabana.

Em meados dos anos 70, praticantes do candomblé tinham o costume de comemorar a passagem do ano na praia mais famosa do Brasil, trajando branco e oferecendo flores para Iemanjá, a rainha dos mares, segundo a cultura afro. A festa sempre foi muito bonita e os demais frequentadores da praia ficavam encantados, o que fez com que as pessoas começassem a replicar o uso do branco nos anos seguintes, tornando-se uma tradição em todo o país.


 


        




Fontes:
BUCKLAND, Raymond - O poder mágico das cores. Tradução José Rubens Siqueira de Madureira - São Paulo: Siciliano, 1989.
FISCHER-MIRKIN, Toby - O código do vestir - Os significados ocultos da roupa feminina. Tradução de Angela Melim - Rio de Janeiro: RACCO, 2001
LURIE, Alison - A linguagem das roupas. Tradução Ana Luiza Dantas Borges - Rio de Janeiro: RACCO, 1997
FARINA, Modesto , PEREZ, Clotilde , BASTOS, Dorinho - Psicodinâmica das cores em comunicação. 5º ed. ver. e ampl. - São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 2006

A COR NA MODA - Parte I


Olá pessoal, como vocês estão?

Hoje vamos começar falando sobre cores em uma série com sete postagens na seguinte ordem:
  • Breve histórico
  • O preto
  • O branco
  • O cinza
  • O vermelho
  • Combinações e contrastes
  • Como usar as cores em ocasiões específicas 
Breve Histórico

As cores influenciam o ser humano e seus efeitos, tanto de caráter fisiológico como psicológico, intervêm em nossa vida, criando diversos tipos de sensações. 

Neste post, falarei sobre um pouco sobre as cores, história e um pouco de sua aplicação na moda.
Elas podem produzir impressões, sensações e reflexos sensoriais de grande importância, porque cada uma delas tem uma vibração determinada em nossos sentidos e pode atuar como estimulante ou perturbador na emoção, na consciência e em nossos impulsos e desejos.

Elas nos causam uma excitação única aos sentidos, que não é ocasionada por nenhum outro elemento visual. É possível descrevê-las apenas até certo ponto, pois sua percepção é de domínio exclusivo do aparelho visual do observador. 


Mas afinal, o que é a cor?

A cor não tem existência material. Ela é tão somente, uma sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão.
Epicuro, há mais de 2.300 anos, desenvolvendo o raciocínio de que "a cor guarda íntima relação com a luz, uma vez que, quando falta luz, não há cor", afirma que a coloração dos objetos varia de acordo com a luz que os ilumina , concluindo que "os corpos não têm cor em si mesmos".

Todas as abordagens da cor, desde as de Platão e Aristóteles, passando pelas experimentações dos pintores gregos, dos sábios árabes e artistas medievais, não chegaram a constituir uma teoria. Essa extraordinária tarefa histórica coube a Leonardo da Vinci.
Até o século XVII acreditava-se que a cor era criada diretamente pela refração da luz do Sol. Isaac Newton foi o primeiro homem, em 1666, a fracionar a luz do Sol em suas cores componentes, usando um prisma e produzindo um espectro. O prisma fazia a refração da luz branca e a dividia em sete faixas coloridas: vermelha, laranja, amarela, verde, azul, anil e violeta. 




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Na verdade, existe na luz, um enorme, se não infinito número de cores inteiramente distintas. Essas sete cores, no entanto, são com frequência chamadas de cores primárias; outras tonalidades e matizes podem ser produzidas com a mistura delas.

Nossos corpos selecionam e absorvem da luz do Sol, as vibrações das cores que são necessárias para seu equilíbrio. Os animais e as plantas fazem a mesma coisa. Claro que nosso próprios corpos já vibram por si mesmos, pois todas as coisas irradiam energia.
O uso da cor não se restringe apenas à moda, ela é usada na decoração, no cinema, na fotografia e até como forma de terapia.

De acordo com Alison Lurie em seu livro A linguagem das roupas "(...) certos aspectos da língua ds roupas podem ser interpretados por quase todo mundo.
O primeiro e mais importante desses sinais, e o que causa impacto maior e mais imediato é a cor. Psicólogos descobriram que o simples fato de olhar cores diferentes altera a pressão sanguínea, a pulsação e o ritmo respiratório (...)"

A percepção das cores, no entanto, não é absoluta. O valor exato de cada cor depende do contexto na qual ela se encontra, e das outras cores que estão presentes no mesmo lugar. O cérebro pode pregar peças, percebendo as cores diferentes daquilo que elas realmente são, como pode ser atestado na figura abaixo, nas quais ambas as listras do espiral são, na verdade, da mesma cor.

Como nosso olho reage à cor

A parte central da retina, ou fóvea retiniana, é constituída pelas fibras nervosas denominadas cones - devido á sua forma. Estes são responsáveis pela visão colorida. Envolvendo a fóvea, encontram-se os bastonetes sensíveis as imagens em preto e branco. No fundo do olho, correspondendo à parte central da retina há uma interrupção dos cones e bastonetes num ponto denominado ponto cego, correspondente à localização do nervo óptico. É por esse nervo que as impressões visuais são transmitidas ao cérebro.   
No que se refere aos dados fisiológicos da percepção da cor, com algumas variantes as deduções de Thomas Young são hoje mundialmente aceitas, conhecidas como Teoria Tricomática.
Segundo Young a fóvea retiliana é constituída por três espécies de fibrilas nervosas (cones) capazes de receber e transmitir três sensações diferentes. O primeiro grupo dessas fibrilas é sensível prioritariamente à ação das ondas luminosas longas e produz a sensação que damos o nome de vermelho, produzindo secundariamente as sensações do verde e do violeta. O segundo grupo é sensível prioritariamente as ondas de comprimento médio que produzem a sensação que denominamos verde, e secundariamente as ondas produzem as sensações vermelho e violeta. Enfim, o terceiro grupo é sensível prioritariamente ao violeta (azul-violetado) e secundariamente aos vermelho e verde.
Quando os três grupos de fibrilas são estimulados ao mesmo tempo com uma energia aproximada temos a sensação do branco. 
Simplificando, dizemos então que nosso olho é tricomático, por que possui três tipos de células foto sensíveis para percepção das cores, os cones. Por isso somos aptos a identificar as cores primárias em luz e pigmentos.
Quando estimulamos apenas um tipo de cone por determinado tempo, ocorre uma espécie de saturação, causando a sensação de enxergarmos a cor complementar. A cor que ilusoriamente vemos no fenômeno da pós-imagem sempre será a a cor complementar àquela observada. A cor complementar é, a grosso modo, a soma das cores que faltam à cor observada para completar o quadro das três primárias. 

Círculo cromático

Existem três cores básicas: vermelho, azul e amarelo. Isso quer dizer que todas as outras cores podem ser obtidas através de combinações destas três, em diferentes proporções. Quando se misturam duas cores primárias, obtêm-se as cores secundárias, que são o violeta, o verde e o laranja. Já as cores terciárias são a mistura de uma cor primária com uma cor secundária. Isso explica por que as cores na moda são tão importantes!
Todas as cores resultantes das misturas das cores primárias, secundárias e terciárias, estão representadas no círculo cromático. Cores em extremos opostos do círculo possuem alto contraste entre si. Lembrando que a cor preta nada mais é do que a ausência de cores e a cor branca são todas as cores juntas.



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Famílias de cor 

Dentro de cada família de cor, podem ser encontradas diferentes tonalidades, que dependem da luminosidade, da saturação e da combinação com outras cores. Quanto maior a quantidade de branco, diz-se que a cor está menos saturada. Chamam-se de cores frias aquelas relacionadas ao mar, ao céu, à água e ao gelo. Por sua vez, chamam-se de cores quentes aquelas que lembram o fogo e o sol. Seguindo este raciocínio, as cores na moda são responsáveis, também, por gerar identificação e desejo.

O estudo das cores é fundamental tanto na área do vestuário, quanto decoração, acessórios, etc. As cores dão o sentido de uma coleção, definem o tema e muitas vezes são capazes de mostrar o tema apenas pela maneira em que foram escolhidas e colocadas nas roupas.


A Influência da cor na Moda

A cor seja talvez a força mais poderosa na comunicação da moda. De acordo com Margaret Watch, diretora da Color Association of America, as flutuações nas preferências das cores estão em relação direta com a economia e o humor nacional; "(...) geralmente, reflete a economia. Numa economia muito boa, você vai ver cores vivas, limpas nítidas. Numa economia muito precária, haverá o que se chama de "cores da época de depressão". Lideram, é claro, o preto e o marrom, seguidos de outros tons sérios como o cinza, vinho e uva."
É importante acrescentar, sobre o estudo de Margaret Watch que a cor revela também o desejo social, como por exemplo, onde em alguns episódios de crise em que líderes ao se pronunciarem publicamente, usando roupas com cores específicas para passar mensagens para a população de maneira "inconsciente". 
Alguns especialistas, sobre o universo da cor, tem observado que as marcas não estão mais tão rígidas em relação às cores de "verão" ou "inverno", até porque qual o problema uma coleção ter peças neon em um período de inverno? As marcas tem usado muito essa relação do "desejo social", onde uma população que passa por um momento de crise, desejar uma roupa mais colorida para dar a ideia de alegria na tentativa de trazer essa sensação para aquele momento, e não mais apenas o significado da cor naquela coleção daquela estação.

Ainda em A linguagem das roupas, Lurie diz:  "(...) Quando alguém vem em nossa direção, a primeira coisa que vemos e a cor de suas roupas; quanto mais se aproxima, mais espaço essa cor ocupa no nosso campo visual e maior é o efeito sobre o nosso sistema nervoso. (...)"
Apesar da roupa indicar na maior parte das vezes o estado de espírito das pessoas, é preciso considerar a região, religião, idade e condição econômica da pessoa, já que esses fatores são fundamentais para a construção do estilo. 

Além das "tendências" que as cores revelam dentro de uma coleção, uma das características mais interessantes (na minha opinião) sobre elas é a mensagem que uma cor pode transmitir a respeito do humor, da personalidade ou das intenções de uma pessoa. 
Por isso, um conhecimento razoável sobre cores pode ajudar em uma ocasião específica, podendo passar uma imagem desejada dentro de uma determinada situação. 
Por exemplo, se cores escuras se retraem, seu uso dá-lhe um ar mais reservado, enquanto cores brilhantes criam expectativa de calor.
Abaixo alguns significados de sensações que as cores podem transmitir:

  • vermelho: força, saúde, vigor, amor, sexual, perigo, caridade
  • laranja: encorajamento, adaptabilidade, estimulação, atração, plenitude, gentileza
  • amarelo: persuasão, encanto, riqueza, confiança, ciúmes, alegria, conforto
  • verde: finanças, fertilidade, sorte, energia, caridade, crescimento
  • azul: tranquilidade, compreensão, paciência, saúde, verdade, devoção, sinceridade
  • violeta: tensão, poder, tristeza, piedade, sentimentalidade

Acompanhem a sequência das próximas postagens.
Boa semana e até o próxima!



Fontes:
BUCKLAND, Raymond - O poder mágico das cores. Tradução José Rubens Siqueira de Madureira - São Paulo: Siciliano, 1989.
FISCHER-MIRKIN, Toby - O código do vestir - Os significados ocultos da roupa feminina. Tradução de Angela Melim - Rio de Janeiro: RACCO, 2001
LURIE, ALISON - A linguagem das roupas. Tradução de Ana Luiza Dantas Borges - Rio de Janeiro: Rocco, 1997
PREDORSA, Israel - Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Editora SENAC, 2013
BARROS, Lilian Ried Miller - A cor no processo criativo - Um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe - São Paulo: Edirora SENAC SÂO Paulo, 2011
Imagem 1: http://www.odousinstrumentos.com.br/blog/2017/04/10/percepcao-das-coresnewton-e-o-prisma/ 
Imagem 2: https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Dicas/noticia/2017/03/circulo-cromatico-aprenda-combinar-cores-na-decoracao.html